domingo, 5 de julho de 2020

UM AMOR MUITO ESPECIAL


Autor não identificado, compartilhado por Martina Annemarie Schymiczek 

domingo, 4 de setembro de 2016

Mulher Poderosa


segunda-feira, 30 de março de 2015

O afeto e as bicicletas são revolucionários !

Ciclistas Anônimos tem sido a crônica de situações, as mais diversas, nas quais a imagem da bicicleta ou dos ciclistas são inspiração para a criação de um texto.
No caso dessa foto o texto, ou uma parte dele, já existe.
Curto, na forma de uma inscrição.
Mas ainda cabe estabelecer a relação entre essa inscrição e a bicicleta já que a bicicleta encontra-se na cena momentaneamente.
Basta esse instante, no entanto, para unir indissociavelmente afeto, revolução e ciclismo na imagem captada.
Pois as bicicletas são ao mesmo tempo uma relação de afeto e detentoras de uma ação revolucionária.
Viva portanto o afeto, a revolução e as bicicletas!

sábado, 5 de abril de 2014

Lovers & tertius

'Lovers' Parting near Nicosia, Sicily', July 28, 1943. Photograph: Robert Capa © ICP/Magnum Photos, Courtesy: Daniel Blau Munich/London


Procuro o que dizer desta foto.
O autor é Robert Capa, nascido na Hungria, que se afirmou como um dos mais importantes fotógrafos do século 20 participando da agencia Magnum que tinha, no grupo, Henri Cartier-Bresson.
Seu trabalho em fotografia alcança consagração ao tornar-se correspondente de vários conflitos armados a começar pela guerra civil espanhola.  Seguem-se a Guerra Sino-Japonesa, a Segunda Guerra, a Guerra Árabe-Israel e a Primeira Guerra da Indochina. A cobertura da Segunda Guerra ele faz estando presente em Londres, norte da África, Itália, desembarque na Normandia e na liberação de Paris.

Como resultado deste trabalho Capa nos oferece  imagens que estão entre as mais significativas destes conflitos mas também da própria história da fotografia.
Algumas, inclusive , nos surpreendem, como esta, "Lovers", pertencente á série relativa à Segunda Guerra e feita, conforme a legenda , na Sicília.
O contexto e a atmosfera da foto são particularmente evocativos desta condição de guerra mas dentro de uma perspectiva social, humana e, de forma bem caracterizada, romântica.
É infindável o número de conjeturas que nossa imaginação poderia estabelecer a respeito do que conversa o casal.
Tão infindável que a fotografia se torna eterna pois a cada visão e a cada espectador novos diálogos entre os protagonistas se tornam possíveis.
E novos papéis assume também a bicicleta , compondo um tertius de marcante significado, dentro deste drama tão particular e, ao mesmo tempo, tão universal.



sábado, 21 de dezembro de 2013

Sem Legenda



Há fotos que realmente dispensariam legenda. 
Mas em alguns casos talvez ficassem um pouco soltas pelo desconhecimento de algumas referências.
No  caso desta foto , a não ser a identidade da modelo, desconheço estas referências ( seria um filme, um flagrante pessoal ?) 
Fico sem saber, portanto, se a simplicidade que ela transmite é produzida ou não.
Em se tratando, a jovem que nos fita, de quem se trata, possivelmente não.
De qualquer modo esta simplicidade, quer seja simulada ou real, considerando-se apenas a imagem, é essencial.
E vem carregada de leituras.
Algumas estéticas, outras sentimentais, outras ainda evocativas de um estado de pureza embora, dependendo do olhar, talvez portadoras de sensualidade. 
Ou também, como no caso, de uma profunda, até mesmo dolorosa, nostalgia.

sábado, 2 de novembro de 2013

Distante Moscou


Seria um sonho? Uma visão?
Ultimamente misturavam-se em sua mente fatos ocorridos com situações nas quais não conseguia distinguir muito bem a origem.
De modo que olhava para a cena diante de seus olhos na distante Moscou, com o edifício Kotelnicheskaya Embankment ao fundo, e procurava entender o que via.
Uma noiva a caminho do altar, atrasada como uma noiva comum?
Ou apenas uma modelo posando para um fotógrafo à procura de um resultado criativo?
Parecia ouvir, no entanto, a fazê-lo recuar de interpretações mais prosaicas, ecos de antigas manifestações, sons e gritos vindos do passado, convocando para a revolução.
Mas nada disso parecia estampado ali naquela cena.
Apenas, talvez, o vazio de um grande espaço o qual a esperança de uma jovem mulher, preparando-se para sair de bicicleta ao encontro de seu amor e seu destino, servia para preencher.
Enfim, não saberia mais o que dizer.
A não ser acrescentar que, junto com o leve vento que se percebia soprar, o céu nublado parecia anunciar uma virada do tempo.
Iria chover? 

domingo, 21 de abril de 2013

Outono

Da tarde já para seu final  reúnem-se amigas para conversar e aproveitar os últimos raios de sol.
São conversas guardadas para este momento de pausa dominical. 
Estão alegres pelo reencontro e pelas notícias e confidências que vão trocando ali mesmo  no meio da rua, no chão de terra.
Esquecem-se do tempo, do entardercer que vem chegando e com ele, o friozinho da noite .
É outono...

foto Daniel Neuer

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mil Palavras

É usual dizer-se que uma imagem vale por mil palavras.
Esta,  por exemplo, é carregada de leituras, 
Tantas que qualquer uma, por mais elaborada, estaria deixando de lado outras tantas igualmente ricas.
Calo-me, portanto, e deixo-me ficar na calçada, entontecido, animicamente metamorfoseado em bicicleta.


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quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Bicicleta de La Paz

La Paz é  um lugarejo, próximo a Colonia no Uruguay, onde Eduardo Prats deparou-se com esta bicicleta. ..
Prats é velejador, dono do veleiro Cariel II, e chegou até ali , durante a Páscoa, vindo de barco de Buenos Aires até Colonia.
E esta é a visão, de uma bicicleta imersa em luz,  que num dado momento em sua peregrinação, surge diante de seus olhos.
Uma visão, justamente, de paz , de transcendência.
Sensação transmitida pela bicicleta sob uma luz celestial , perfeitamente imóvel e harmoniosa na magia do ambiente. 
Como uma revelação.
Esta bicicleta deveria ser mantida onde se encontra ou removida para um santuário tornando La Paz um destino de peregrinação para os crentes do ciclismo do mundo inteiro.
Crentes à procura de curas, de milagres.
Como da Ressureição  ...

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sexta-feira, 29 de março de 2013

Coming Soon...


sábado, 23 de março de 2013

The Post-Petroleum Age

Daniel Charles Piraro (born 1958) is a painter, illustrator and cartoonist best known for his award-winning syndicated cartoon panel Bizarro. Piraro's cartoons have been reprinted in 16 book collections (as of 2012). He has also written three books of prose.
When he finally was given a Reuben Award in 2010 , cartoonist-illustrator Steve Greenberg commented:": "Perhaps they finally gave him the award to get him off the ballot after so many consecutive years on it; the rule (at least since multiple-winner Bill Watterson’s Calvin and Hobbes) for the Reuben Award is once-only per creator.
In any event, this is overdue recognition of a strip that is among the best drawn (for me, up there with 9 Chickweed Lane and Non Sequitur) and inventive (for me, up there with Liō and Zits).
Bizarro has also given the world of comic strips signature icons, such as his ongoing placements of eyeballs, pieces of pie, aliens in space ships and somewhat menacing bunnies. It’s the comics world’s closest brush with the world of surrealist paintings (and by the way, Piraro is an excellent surrealist painter as well).

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Saturno de José , Pedalando no Som



Respeitável público, em 2012 lança seu primeiro EP a banda da região metropolitana de Porto Alegre Saturno de José. O grupo foi premiado pelo projeto Funproarte da cidade de Esteio/RS e ganhou financiamento para a produção do disco, gravado, mixado e masterizado pelo paciente e soberano Alexandre Birck (Graforreia Xilarmônica) no estúdio Music Box, na capital. Mas antes de Saturno, os cinco rapazes orbitaram por outros planetas. Daniel de Bem (vocal, violão, baixo e teclados) e Ivan Lemos (vocal, teclados, escaleta e violão) eram parceiros no projeto Fidélio. Assim como Hiozer Rezoi (vocal, violão e baixo) e Tiago Sudatti (vocal, bateria e percussão), que estavam em outra banda de rock, a Ecos Ecléticos. A admiração era mútua e o caminho aberto para todos. Com o término dos grupos em 2008, os músicos começaram a ensaiar juntos e explorar musicalidades diferentes. Encontrar novas possibilidades na música, misturar as influências e sentir o frio na barriga. Instrumentos incomuns para jovens do rock começaram a colorir os arranjos e rapidamente sambas e marchinhas foram surgindo. Foi o caso de Felicidade (Hiozer Rezoi) e Ladrões de Alegria (Daniel de Bem, Hiozer Rezoi e Ivan Lemos), que cresceram nos primeiros meses de banda e, assim como as outras músicas do EP, incorporaram arranjos de autoria de todos os membros do grupo. Na São Leopoldo Fest de 2010, o grupo conheceu Gibran Vargas (flauta e clarinete). A indicação dos amigos estava certa: a sonoridade da banda era perfeita para ele. Os músicos marcaram um ensaio e deixaram a felicidade vir. Quando o primeiro riff de flauta entrou sobre os acordes de Fonte da Juventude, foi amor à primeira vista. A poesia do grupo é discreta e elegante. Através dela falam as injustiças sociais (Soberano), os avós para seus netos (Adoçar) e os sentimentos que não podem ser expressos de maneira simples (Ladrões de Alegria). Mas acima de tudo, sobre rodopios de alegrias e sofrer (Ballet Atmosférico), está a juventude, gritando como um circo em polvorosa e mostrando o que melhor sabe fazer: viver inspiradamente. Depois de navegar nessa mistura, não se preocupe se para casa você não souber voltar. (   Anelise De Carli )

sábado, 19 de janeiro de 2013

Um Ciclista Anônimo descoberto por Rogério Franck

Rogério Franck da Silveira, formado em Artes Visuais e artista de grande inspiração, envia esta imagem de sua autoria com a observação: "vai aí um ciclista anônimo"...
E a imagem coincide de tal forma com esta impressão que qualquer palavra pareceria supérflua.
Por isto apenas deixo-me submergir na simplicidade e no anonimato do momento.
Não ousaria profaná-lo...

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Câmara de Aladim



Dentro do novo cenário das artes em Pelotas ganha corpo a produção saída de alunos do curso de Artes da Universidade Federal .
São na maioria propostas que, procurando sair do âmbito dos trabalhos acadêmicos, têm a disposição de serem inovadoras.
O que deste laboratório irá perdurar dentro do difícil contexto de tornar-se artista é impossível prever.
Mas algumas propostas, sem dúvida, são criativas e merecem atenção.
É o caso dos trabalhos desenvolvidos através da oficina de fotografia Olhos de Lata  que empregam a técnica do pinhole.
Embora esta técnica seja bem conhecida e, periodicamente, volte a ser resgatada , os resultados obtidos pelo grupo são bem interessantes.
A técnica do pinhole, apenas para lembrar , consiste em empregar uma caixa ou uma lata na qual é feita um pequeno furo. Na parede oposta ao furo coloca-se
papel fotografíco. Diante de um objeto fixo e mantendo igualmente fixa a lata durante um tempo que pode ser grande, o papel será impressionado resultando uma imagem
positiva a qual basta revelar pois já se trata da própria cópia final.
As fotos acima, de autoria de Luísa Planella , Tâmires Rodrigues e Juliana Charnaud  ilustram o resultado do processo.Observando estas fotos e a densidade artística que incorporam não há como deixar de pensar que a câmara pinhole assume, nestes momentos, o papel de produzir imagens com o poder mágico não da lâmpada, mas de uma câmara de Aladim. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

sábado, 23 de junho de 2012

Bicicletas Acorrentadas


Rua XV, esquina com Sete de Setembro (Fotos: Coleção Rubens)

Entre as cenas do cotidiano que sempre me chamam a atenção uma bicicleta abandonada ou simplesmente estacionada em algum lugar é uma das preferidas e que mais, por conseqüência, tenho explorado. 
Ciclistas Anônimos , conjunto de crônicas sobre ciclistas e bicicletas, é, claramente, testemunho deste fascínio. 
O registro fotográfico tem, então, o papel de ser o elo desta atenção.  
No caso desta foto, por exemplo, de autoria de Rubens Amador Filho, editor de Os Amigos de Pelotas, sinto-me provocado por diferentes motivos os quais não são isolados mas, ao contrário, acabam se relacionando todos entre si.
Começo pelo mais difícil, pelo menos me parece, e ao qual, neste momento, vou me restringir..
Esqueço o tema mesmo sendo a bicicleta, central destas crônicas, e detenho-me na fotografia.
Comentar fotografia, tarefa à qual me dediquei durante dois anos mantendo uma coluna semanal no jornal Diário da Manha, intitulada Arte&Fotografia, apresenta alguns desafios. O primeiro é a necessidade de se ter um mínimo de conhecimentos teóricos, estéticos e históricos, que possibilitem inserir a obra dentro de um contexto razoavelmente coerente.
A fotografia, hoje uma forma de expressão que tem reservada dentro da Arte um espaço sempre instigante, move-se por caminhos próprios com  particularidades nem sempre devidamente identificadas pelos apreciadores ou mesmo os críticos de arte.  
Vou, portanto, me deter em apenas um ponto dentro deste contexto.
A fotografia na sua origem foi durante um bom tempo desqualificada como arte porque parecia, dentro da visão predominante até aquele momento, ser mais um produto da técnica, um resultado mecânico, do que da inspiração e da criatividade.
Parecia, assim, não ter outro futuro do que produzir registros visuais e documentais. Ou na melhor das hipóteses, como foi se tornando freqüente, ser uma técnica de apoio para a pintura e o desenho.
Com o advento de equipamentos cada vez mais acessíveis tanto à aquisição quanto ao manuseio e a crescente capacidade de produzir fotos em quantidade sempre maior, a fotografia poderia ter se extraviado pela banalidade e pela profusão.
Não é, no entanto, o que sucedeu. Verificou-se que dentro deste processo, por mais massificador que tenha se transformado, não deixaram de ser produzidas  peças que só se podia incluir , a partir de critérios que foram se constituindo , na galeria das obras de arte mais requintadas e consagradas..
Só a título de exemplificar o que quero dizer cito, como autores hoje clássicos que me são mais familiares, Ansel Adams, Edward Weston, André Kertész, Man-Ray, Bresson e, claro, o nosso Sebastião Salgado. ,         
Pois bem, voltando à foto, tenho constatado no autor uma familiaridade com a fotografia verificável pelo vivo interesse que demonstra, que lhe dá um background teórico, e pela forma como procura se valer deste interesse nas fotos que produz.
É nítido, em várias delas, o olhar fotográfico que se apresenta sempre que a foto, deixando de ser apenas um registro mecânico, torna-se também o registro de uma percepção e uma interpretação da cena que visualiza.
Neste momento a fotografia transcende o espaço que lhe destina o suporte, seja ele qual for, sai da “parede” ( talvez no momento de estar numa exposição) e  ganha a nossa consciência e a nossa imaginação.
Vejo isto na fotografia de Rubens. A foto da bicicleta é uma instância deste processo. E não me detenho apenas nesta fotografia isoladamente, mas no conjunto que nos tem dado a conhecer.
Integrando a série “Retratos do nosso centro favelizado e 'perigoso' “, inclui-se a cena acima, em frente do Café Aquário, onde encontram-se as palmeiras tropicais uma das quais  justamente serve para manter a bicicleta amarrada por uma corrente a caracterizar, na proposta, a insegurança, A circunstância, é importante para  contextualizá-la e permitir, tanto aos que conhecem o local como aos que não conhecem, percorrer as múltiplas janelas que se abrem à interpretação que pode se deter em aspectos, entre outros, estéticos e sociais.
Trata-se de uma bicicleta que permanece costumeiramente no mesmo lugar. Mas foi apropriada pela fotografia, ganhando uma vida que não possuía, tornando-a visível e a retirando do anonimato.
Faço por fim uma observação. 
Sem palavras , legenda que acompanha a foto, remete à idéia de que a fotografia se explica por si só e que quaisquer palavras seriam excessivas.
Prefiro não dizer que uma boa fotografia vale por mil palavras dispensando-as.. 
Boas fotos, opto por acreditar, são justamente as que mereçam mil palavras, e aqui ensaio algumas, e  possam ser vistas sem cansaço .

sábado, 14 de abril de 2012

A Criação da Bicicleta


Deus pode ter criado o homem.
Mas foi o homem que criou a bicicleta.
Como resultado de sua inteligência, de sua engenhosidade.
Primeiro, aliás, criou a roda.
As primeiras bicicletas eram estranhas, muito altas, com rodas enormes.
Já permitiam, contudo, que seus condutores, com o simples movimento de pedalar, percorressem com rapidez grandes distâncias.
E à medida que as bicicletas foram se tornando cada vez mais "humanizadas", ou seja, de mais fácil emprego, puderam, num dado momento, ser utilizados por crianças.
Neste momento homem e máquina pareciam terem nascidos juntos disfrutando, como crianças, a mesma infância.
A única particularidade foi destas pequenas bicicletas disporem de três rodas e serem denominadas velocípedes.
Desde então, homem e máquina tornaram-se cada vez mais inseparáveis.
A tal ponto que há quem queira sustentar, tal a humanização da bicicleta, que ela também é uma criação divina.
Isto, contudo, não procede.
O mais provável é que de alguma forma Deus ele próprio fosse também um ciclista e gostasse de dar suas pedaladas.   

Saias e Bicicleta

Nada mais romântico do que ver uma mulher pedalando de saia.
Mas saia longa e numa bicicleta feminina. 
Do contrário o resultado pode ser desastroso especialmente se a saia não for longa.
E se, ainda por cima, for justa e a ciclista estiver procurando subir na bicicleta vamos nos deparar, quase certamente, com uma daquelas situações em que o charme construído em torno da mulher sofre um sério abalo.
Para recuperar talvez apenas se demonstrar ser uma boa ciclista.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Um Ciclista Anônimo

Receio que o que me atrai nesta cena em Montevideo possa não atrair mais ninguém.
A imagem não atende nenhum padrão vigente que a torne razoável sob o aspecto fotográfíco.
Para mim, no entanto, tem um valor próprio.
O ciclista da cena puxa um reboque no qual carrega coisas importantes para ele.
Não pude definir bem se utensílios e pertences ou lixo que coleta.
Mas é Sexta-Feira Santa e pelas ruas vazias da Ciudad Vieja este homem , enquanto a cidade dorme, movimenta-se à busca de seu sustento e dos que possam depender de suas pedaladas.
O valor da foto, para mim, está também no fato de que tive que correr para chegar na esquina a tempo de registar sua passagem já meio desaparecendo. Mas acho que não corri o suficiente,  por isto a figura do ciclista já quase saindo do quadro.
Agora, cada vez que olho para o seu vulto na foto fico pensando: eis aí , como não poderia haver outro tão marcante , um autêntico ciclista anônimo. 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Vitoriana

As formas de pedalar são infinitas.
Quando não se efetivam como coisa concreta,como rodar sobre asfalto ou sobre  pedras, nem por isto deixam de materializar-se sob formas diversas nas quais predomina, não o esforço físico, mas a imaginação.
Ou quem sabe o desejo, a libido.
Não tinha me detido mais demoradamente a considerar isto mas, é claro que há elementos que conferem à bicicleta, em determinadas situações, um elemento de sensualidade e até de erotismo, muito claro.
Não preciso dizer que é o caso desta foto.
O que me faz também lembrar que, se pedalar nos dá tanto prazer, há outros preferíveis.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Esperança



Tenho uma espécie de esperança, meio secreta, de que o mundo poderá ser melhor.

Conforme dizem faz muito tempo que Aquele que estava destinado a nos salvar já nos visitou mas os homens continuam explorando uns aos outros e se exterminando em disputas cruéis.

Não sei exatamente como isto vai acontecer, na verdade não sei nem se vai acontecer, mas quando pedalo me agrada acreditar que um outro Salvador ainda virá, carregado num berço sobre rodinhas atrelado a uma bicicleta, para nos conduzir a um mundo melhor.    

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pedalando com a Violência


Jurei que ia falar de coisas alegres.
Da alegria de subir numa bicicleta e sair por aí.
De manhã cedo, bem cedo, acompanhando o surgir do dia e sentindo o ar matutino refrescando o rosto. Ou, mais tarde, em meio ao tráfego, esquivando aqui e ali para conseguir avançar. Ou, ainda, durante a noite, talvez na companhia de amigos para uma pedalada descontraída, conversando, numa conversa que pode até permitir uma parada para tomar alguma coisa num bar de esquina.
Jurei.
Não queria correr o risco de afugentar os leitores que foram surgindo, um a um, até formar um pelotão já numeroso de ciclistas, anônimos como eu, que mantém todos, no entanto, a característica comum, o que já nos tira do anonimato, de entendermos que estar pedalando sentado num selim é uma experiência inigualável.
Jurei, mas aí surgiu Pinheirinho no meu caminho.  E, de novo, não tive como deixar de associar a imagem da bicicleta às situações de drama social em que se vê envolvida.
No caso um drama de dimensões e significados que ainda nos resta entender em toda a sua gravidade, em toda a extensão de suas implicações no terreno humano, social e político.
E ali , presente, inseparável destes momentos, encontro a bicicleta. Em meio a outros bens e utensílios, ao lado de eletrodomésticos, butijão de gás e até um banquinho de madeira, como testemunha do drama.


Testemunha do assalto numa manhã de domingo ( quem disse que o domingo é sagrado?), da investida bárbara, da destruição, da violência respaldada pela lei e pelo governo através da mão armada, com requintes fascistas, promovida contra lares, famílias,  vidas que se constituíram em torno de referências que, de um momento para o outro, foram devastadas, jogadas por terra.     
A revolta não vai passar, nem quero que passe, nem a amargura, mas volto aos temas amenos. A bicicleta existe para isto, para nos tornar mais simples, mais humanos, mais amigos.
A bicicleta existe para nos salvar de um mundo que, diariamente, dá passos rumo à própria destruição.  

sábado, 21 de janeiro de 2012

Beleza Triste

Sei que já disse que nunca posso prever o que vai me inspirar numa cena.
Simplesmente vou descobrindo , um pouco ao acaso, alguma coisa que me evoca uma lembrança de algum outro momento, de algum outro lugar, talvez da infância, talvez, se quisesse especular, de uma outra vida.
Esta lembrança, sem que eu saiba bem como explicar, muitas vezes é triste ou, então, para quem sabe melhor expressar, traz consigo uma melancolia.
Mas que posso fazer?
Teria que não ver a criança triste, o bairro pobre, as bicicletas maltratadas, o abandono presente.
Que posso fazer ?
Cegar meus olhos, bloquear minha consciência, ignorar minha tristeza?
Busco respostas quanto ao que posso fazer se, às vezes, a beleza é triste, tão triste, que quase deixa de ser beleza.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

No Brique da Redenção

Alguém , que se identifica como Ivan, publica esta foto no flickr.
Faz parte de um conjunto de boas fotos de vários lugares.
A foto, tirada junto à área do brique da Redençao em Porto Alegre,tem como legenda "Minha companheira!".
Este local me traz recordações.
A bicicleta e o carinho com que é mencionada me toca e me faz querer estar lá novamente , de preferência num dia de outono a perambular meio sem compromisso pelas alamedas da Redenção e pelas ruas de Porto Alegre.
Talvez até, como num conto, encontrasse esta bicicleta presa ao poste como se o tempo tivesse , através da fotografia, se congelado até minha chegada. A primeira vez que viajar a Porto Alegre vou lá confirmar.

foto:http://www.flickr.com/photos/ivanbustamante

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Pyongyang


Nunca sei o que irá me despertar a inspiração de escrever.
Uma cena, uma notícia, uma imagem…
Contanto que a bicicleta ou ciclistas estejam presentes, dreta ou indiretamente, algo irá dar o sinal como um disparador, um starter  e, em resposta, nascerá o texto .
Há situações, no entanto, em que fico dividido entre escrever ou me deixar ficar apenas como observador.
Diria que é o caso desta cena.
O que dizer que pudesse representar um acréscimo ao que ela já nos proporciona?
A cena é completa, plena.
O detalhe de estar ocorrendo na Coréia da Norte também pouco parece acrescentar.
Tampouco parece importante distinguir se os ciclistas são um casal como, não sei exatamente a razão, sinto-me inclinado a pensar. A legenda esclarece este ponto e adianta se tratar de homens ao fim de um dia de trabalho e talvez apenas este detalhe que não estão a passeio possa trazer um elemento diferente, capaz de acrescentar algo à plenitude da imagem.
Mas só.
Vê-se que conversam… em coreano, mas quase podemos entender o que dizem… há uma linguagem universal entre os homens que independe de língua, de país.
Em toda parte temos nossa atenção voltada para as mesmas coisas, o que nos separa nåo é a nossa natureza, esta é semelhante, mas circunstâncias que nos levam a termos crenças diferentes.
Neste momento contudo estas crenças parecem não se interpor entre nós e os ciclistas de forma que por uma mágica empatia nos sentimos pedalando junto com eles ao cair do dia como se tivéssemos o mesmo destino comum,a mesma sorte e os mesmo medos e expectativas diante do grande mistério da vida.
Por um momento estou na distante Pyongyang e sou coreano...

( Photo/ David Guttenfelder)


sábado, 1 de outubro de 2011

As Cinzas de Puyehue

Enquanto pedalo meus pensamentos oscilam entre lembranças algumas bem antigas, até da infância, e planos futuros.
Às vezes pedalo sem um objetivo ou um destino específico. Pedalo como que por pedalar, como uma forma de ocupando o corpo com uma atividade determinada, libertar o espírito para outras incursões.
Ultimamente tem me chamado a atenção as notícias de catástrofes. Distingo as naturais, algumas inevitáveis, de outras nas quais a intervenção humana tem influência em suas causas. Mas há também momentos em que os dois tipos se encontram num cenário de apocalipse. Vivemos um período em que de forma sucessiva estas catástrofes apresentam-se a nossos olhos como o anúncio de experiências terríveis .
Sigo pedalando, o trecho que percorro me leva em direção à praia e posso ir adiante com segurança utilizando uma faixa que segue ao lado da pista.
Ocorre-me que as catástrofes naturais impõem-nos um cenário que não é mais terrível do que aquele provocado por nós mesmos.
Se a cena de toda uma região coberta pelas cinzas do vulcão Puyehue nos estarrece, ela não é mais dramática, pelo contrário torna-se até branda, diante do quadro de miséria e destruição provocada pelo homem.
As maiores catástrofes não são , portanto, as naturais mas as que tem sua origem na ambição, na exploração que o mundo moderno segue praticando .
Ou então na sua ignorância, nas suas crenças e superstições irracionais . As guerras, os conflitos territoriais ou religiosos, a fome, costumam apresentar-se como consequências imediatas
Manuel Antuña, jovem habitante de Villa La Angostura, uma das povoações mais afetadas pelo vulcão Puyehue, dá seu depoimento declarando que  "al principio, uno sentía desesperación por no saber qué estaba pasando. El primer fin de semana, un vecino salió con un megáfono a decir que se venía el fin del mundo y comenzó a circular el rumor de que estaba por ocurrir un gran terremoto. Muchos abandonaron la ciudad y otros durmieron en los autos". Este testemunho me faz pensar que os automóveis, em um momento de extrema destruição, poderiam ter pelo menos esta utilidade, servirem de refúgio e abrigo.
Neste momento dou-me conta de que já estou na praia.
Ainda é cedo e ela se encontra vazia. Um ou outro transeunte e os permanentes cachorros. Infelizmente nada se tem feito para resolver esta situação. Cachorros abandonados também me passam uma sensação de abandono, de terra devastada..
Afora isto, no entanto, a cena em nada lembra uma catástrofe..
Deixo-me, portanto, por alguns instantes , ficar a olhar a paisagem que me leva para um mundo em que a paz pode se refugiar.
Mesmo me sentindo um pouco culpado por poder me proteger desta forma, deixo o sol bater em minha face e tenho a deliciosa sensação de que a vida pode ser boa.
Especialmente se neste momento tenho a companhia , acomodada de meu lado, de minha bicicleta.
(foto AFP)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Interlúdio


Em minhas andanças deparo-me com esta belíssima senda em Jurerê , Florianópolis, e já me preparo , como num sonho, para atravessá-la de bicicleta, apreciando o corredor verde ladeado de vegetação em ambos os lados.
No final deste corredor a praia nos aguarda.
Mas o sonho não dura muito.
Basta aproximar-me para constatar que ciclistas, incluídos na mesma categoria que skatistas e motociclistas, estão barrados.
Não me deixo, no entanto, desanimar.
Desço da bicicleta e atravessamos os dois, eu e minha bicicleta, lado a lado, como se de mãos dadas, a pequena vereda que nos leva ao mar .
O encanto, assim, nem chega a ser desfeito.


sábado, 2 de julho de 2011

O Juizo Final


Há quem vislumbre nas grandes catástrofes sinais inequívocos da vontade divina.
Quase sempre, quando são catástrofes que penalizam pesadamente, em vidas e bens materiais, populações inteiras, sinais interpretados como de punição.
Se assim fôr cabe-nos erguer as mãos em oração e pedir perdão por nossos pecados.
Mas a maior de todas as catástrofes ainda está por vir. O verdadeiro dia do Juízo Final pode estar chegando.
A Terra será invadida por automóveis, tantos e em tal número que em seguida deixarão entupidas todas as saídas possíveis. Surgirão como uma praga de proporções dantescas. E a humanidade, sem ter como se deslocar e sem qualquer meio de transporte possivel pois até os aeroportos e portos serão totalmente tomados de carros, sucumbirá à falta de suprimentos, de comunicação e de socorro.
Apenas sobreviverão, como nas grandes hecatombes, os ratos e as baratas. Mas desta vez talvez também um punhado de ciclistas que puderem, esgueirando-se por entre os escombros e os automóveis amontoados, encontrar um trilha para a salvação.
O mundo, a partir deste dia, estaria livre dos carros para sempre.
Deles apenas restaria uma montanha de ferragens corroídas até o seu desaparecimento completo,
Enquanto pedalo e me esquivo dos automóveis , que passam em alta velocidade bem junto ao meu corpo, não mais do que meio metro,  me pergunto se estas elocubrações que me vêm à cabeça são resultado de um sonho ou se estou tendo uma alucinação.
Mas me animo e até pedalo com mais energia diante da perspectiva de que se trate de algo real e de que sua plena realização possa estar mais próxima.
Redobro minhas forças reanimado por ter o segredo, só a mim revelado, de que o reinado destas máquinas, que ao passar ao meu lado ameaçam, no vácuo, me arrancar do selim, está chegando ao fim. 

domingo, 20 de março de 2011

Tsuna Kimura: Pedalando entre Escombros

As calamidades provocadas por fenômenos naturais são parte inseparável da existência humana. Os registros destas calamidades sejam elas principalmente terremotos, erupções vulcânicas, ciclones e enchentes, constituem uma longa lista ao longo da história com perdas descomunais em vidas e bens materiais. O quem tem mudado são de um lado um conhecimento maior de suas causas e o desenvolvimento de melhores condições de prevê-las e enfrentá-las e, de outro, a capacidade que os meios de comunicações estabeleceram de acompanharmos estes fatos praticamente ao vivo, sentados em frente ao televisor.
Tornamo-nos, assim, espectadores privilegiados e, em alguns momentos -- tão vívidas são as imagens e as informações que nos chegam -- quase protagonistas destas tragédias.
Os recentes terremoto e subsequente tsunami no Japão são exemplos disto.
De um momento para o outro passo a saber da existencia, por exemplo, de Tsuna Kimura, uma japonesa de 83 anos, que escapou do tsunami em uma bicicleta.
A idosa, que passou a vida trabalhando em fazendas de arroz, relatou que assim que ouviu o alarme de tsunami subiu em sua bicicleta e saiu pedalando, sozinha, sem ter idéia para onde ir.
Ela disse que estava em casa quando o alarme soou e que pensou que "o Japão ia desaparecer debaixo de água". Para Tsuna, que tem dois filhos mas mora sozinha (diz que não quer ser um peso para os filhos) e está agora em um abrigo , a situação atual lembra os dias seguintes ao lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945. Tsuna era adolescente à época.
No Japão atual e particularmente na região atingida, predomina a população de idosos que pela própria condição física teriam tido mais dificuldades de fugir do tsunami.
Regra que parece não ter se aplicado a Tsuna que, com seus 83 anos, valeu-se da bicicleta para poder distanciar-se da onda gigantesca.
Seria a oportunidade , que um político logo poderia aproveitar, de colocar a bicicleta de Tsuna em um museu para que permanecesse como uma espécie de monumento à sua determinação e ao valor neste caso plenamente evidenciado desta magnífica máquina sobre duas rodas.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Bicicletas de Amsterdam ( III )

Para quem não tem uma idéia exata do que representa a presença das bicicletas em Amsterdam talvez possa entender melhor meu receio, receio de ciclista!, de uma ditadura sobre duas rodas, olhando este vídeo, aparentemente tão cândido e levemente humorado.
Eu fico , a um tempo, emocionado e assustado.
Se as bicicletas dominassem o mundo, o mundo ficaria melhor,concordo.
Mas haveria lugar para dissidentes?
Ou estes seriam eliminados não sem antes, em alguns casos, serem torturados para confessar supostas sedições ou por não aderirem, de forma cega e irrestrita, ao ciclismo?
Olho ao meu redor desconfiado... o totalitarismo e a Inquisição sobre duas rodas espreitam...